27 de jul. de 2012

Coração Amaldiçoado


    "O vazio pode nos levar ao desespero e os sentimentos a morte".
   
    Ando pelos pesadelos procurando entender a maldição que habita dentro do meu ser. Coração escuro perdido nas sombras do passado, sem você fico perdido no mundo, vagando por uma névoa densa e assombrado por traumas da vida, vindos da infância.
Sinto o seu pulsar, cada batida. Parece que meus sentimentos são enterrados no buraco, que aprisionou o amor para sempre num lugar vazio dentro de mim.
Com passos lentos, sinto o cheiro da morte se aproximar, meus pés tocam o piso frio do cemitério, meus olhos já conseguem enxergar os fantasmas vindos de encontro ao meu corpo.
Começo a correr. Desço as escadas do inferno e meus lábios gritam com a sensação de meus pés pisarem no fogo da justiça. Corvos no céu sobrevoam a minha mente, caveiras começam a acariciar o meu rosto com gestos lentos e acolhedores. Sinto que esse é o meu lugar. Eles pareciam estar entendendo a minha dor, chorando pelas minhas lágrimas, conformados com minha morte.
Enquanto isso. Vislumbro uma mulher usando um vestido preto, ela rodava rapidamente em cima de um altar, e quanto mais ela girava mais o seu vestido começava a definhar e o planeta Terra ao seu lado se enchia de escuridão. Até o momento em que o planeta havia sumido, e eu só conseguia enxergar aquele corpo nu, aqueles lábios vermelhos de paixão, aqueles cabelos loiros de ouro. Aquela alma levada ás profundezas sem um motivo, apenas diversão.
De repente, o olhar daquela beldade encontra o meu, tenho certeza de que serei presa fácil para aquela sedução. Espero ela chegar perto de mim, e percebo que as caveiras começam a se afastar, os fantasmas a se esconder, e eu hipnotizado, não consigo me mover.
Quando seus olhos encontram o meu, meus lábios já mantinham contato com os seus. Suas mãos deslizavam por todo o meu corpo, fogo consumia o meu ser, meus sentimentos conseguem nadar até a superfície do buraco que parecia ser infindável dentro do meu peito. Nossos corpos começam a rolar pelo cemitério, meus traumas da infância ficam esquecidos no passado cruel. Sinto que estou mais vivo do que nunca, com suas unhas ela consegue apimentar a nossa relação, não consigo pensar em outra coisa, apenas na fusão de nossas almas, no nosso encontro mágico perante as leis da vida, esquecida por muitos no luar de uma noite repetitiva.
Quando ela termina a nossa relação antes da explosão do meu amor, percebo que ela é a dona do cemitério, por isso preciso matá-la. Lutar contra o que eu sinto para conseguir a liberdade de todos. Preciso me livrar do pecado que a todo instante me atrai para fazer coisas erradas.
Aos poucos me aproximo por trás dela, e me preparo para o golpe fatal. No momento em que ela se virar, estarei pronto para destruir aquele belo corpo e libertar o cemitério daquela ditadura eterna. Aos poucos ela vai virando e em vez de matá-la, beijo os seus lábios, me curvo aquele poder. A lua no céu começa a chorar, as caveiras a se encolher. Beijo, beijo, cada vez mais profundo, tentando entender o sentimento que desde a infância consegue se esconder. Mais profundo, mais profundo, até que meu lábio começa a sentir dor, até que quando abro os olhos percebo que a boca dela parece estar me engolindo aos poucos, começo a sentir frio, sem aquele calor do inferno pra me esquentar, sem aquelas imagens pra me seduzir. Apenas um corpo no breu, inexistente desde a infância, desde o momento em que se perdeu!

19 de jul. de 2012

Encantamentos


    No desafio do olhar
    Vem o calor da sedução
    E é ai que eu invisto
    Na minha modesta declaração
 
   Ganhar de você não é fácil
   Logo veio o cansaço
   E depois de tanto persistir
  Consegui me esquivar do fracasso

   Nessa luta de lua e sol
   Consegui te hipnotizar
   E logo você foi cedendo
   Para eu te imobilizar
 
  Essa paixão avassaladora
  Trouxe o fogo para a minha alma
  Que me corroia por dentro com tanto desejo
  Para acabarmos indo com calma
 
  Na cama nós pecamos
  E a inveja e a maldade
  Destruíram o amor
  De toda a humanidade
 
  O feitiço foi passando
  E caímos na real
  O perigo veio em cheio
  Trazendo um amor mortal!
 
  No baile de máscaras
  Eu tinha que te matar
  Não podia deixar o nosso amor
  Voltar a se realizar

  O veneno coloquei no drinque
  E brindamos a paixão
  Você caiu lentamente
  Com a taça vazia na mão

  Quando tirei a sua máscara
  Você ainda estava viva
  No meu copo continha a morte
  Que ia tirar a minha vida

  Tudo tinha sido um plano
  Bem arquitetado
  De repente minha máscara caiu
  E meu coração parou humilhado

  Antes de morrer
  Fiz uma reflexão
  O encantamento da mulher
  Traz o homem a perdição!

16 de jul. de 2012

Luz

(Autoria: Guilherme Torrano e Mariana dos Santos)

Minha alma ao céu aguarda,
Meu pecado ao inferno anseia
Anjos e demônios esperam 
Pela decisão de uma vida inteira.

Como a sombra segue a luz
Essa dúvida me persegue
Fazer o bem ou o mal?
É a pergunta que me segue.

Demônio, fique atento
Se eu cair em tentação
Arranque a minha vida
Como forma de punição!

Anjo puro e imortal
Para minha alma ao céu levar
Meus segredos, meus pecados
Ajude-me a apagar.

Na batalha do mistério da vida
Luz e trevas lutarão
Sangue escorre pelo mundo
Aguardando o campeão!

Porém não há como vencer
Aos que torceram, peço perdão.
Virtude e pecado unidos
Em minha alma habitarão.

13 de jul. de 2012

Fita Vermelha

" O amor, entrelaçado por encantamentos desconhecidos pela razão, pode ser assustador e sombrio. Muitas pessoas acham que ele é o melhor sentimento do mundo, mas o amor mata!" 

 A lua cheia brilhava no céu intensamente. Duas pessoas corriam em direção ao mar, brincando de amar numa noite quente e bela, corriam como crianças buscando o seu primoroso tempo de diversão, e quando eles passaram pelo portão da mansão Rosa Dourada uma pessoa vestida de preto espiava nas trevas.
  Agora o casal estava de mãos dadas, e num milésimo de segundo a fita vermelha se desprendeu, com o forte vento, do cabelo de Suzana e repousou silenciosamente e lentamente a alguns metros da pessoa que se escondia nas sombras.
  Suzana nem percebeu a queda de sua fita. Continuou caminhando de mãos dadas com Frederico, o casal iluminado pelas estrelas sorria para o mundo. Eles se desequilibraram e Suzana caiu em cima de Frederico, os dois com os rostos colados, com a boca a centímetros uma da outra, com os olhos atentos a qualquer movimento. Até que o desejo proibido era tão imenso que o beijo não demorou muito para acontecer, a pessoa nas sombras chorou nesse momento, a dor era tão profunda que aos poucos ele foi se encaminhando para o local onde a fita repousava no chão, abaixou-se e pegou a linda fita vermelha.
  Amassou-a com um ódio devastador, começou a sentir muito calor em sua mão e soltou-a imediatamente no chão, para sua grande surpresa ela pegava fogo, o vermelho começava a ser consumido pela chama, que ardia todo aquele fervoroso sentimento. Aquela paixão avassaladora destruída pelo tempo ainda pulsava fortemente em seu peito e Deric descobriu que o tempo é infinito e sentimentos podem ser adormecidos por milênios.
  Enquanto isso, próximo ao mar o casal terminava de se beijar. O sorriso de Frederico relampejava de felicidade, seus olhos verdes e seus cabelos negros eram uma combinação perfeita para a apreciação de beleza de Suzana.
   -Fico olhando o seu sorriso e consigo vislumbrar a perfeição- disse ela, passando a mão pelos seus lábios, sentindo cada parte do seu rosto com o calor nas pontas dos dedos- Tive muita sorte de encontrar um homem como você. Fico pensando quantas mulheres no mundo são infelizes com os seus namorados, e você consegue me preencher de uma maneira tão excepcional que eu me pergunto se realmente mereço estar ao lado de uma pessoa tão maravilhosa.
   Frederico não respondeu com palavras e sim com atitude. Ele selou seus lábios com o dela de uma maneira profunda e apaixonante. Levantou-se rapidamente e pegou Suzana no colo, o vestido dela se debatia incessantemente com o forte vento. Correndo, correndo, Frederico logo alcançou o mar e ele a largou de uma maneira educada e ela ficou com os seus braços entrelaçados envolta do pescoço daquele jovem de corpo esbelto e sedutor.
   Em frente ao portão Rosa Dourada, Deric vislumbrava a fite vermelha se transformar em cinzas, todo aquele amor, todos aqueles beijos, todas aquelas palavras de carinho, todos aqueles sonhos, todos aqueles planejamentos afundados por oceanos profundos de um mistério incompreensível.
   As recordações vieram nitidamente na sua mente.
   -Você promete me amar para sempre?-perguntou Deric com os seus cabelos despenteados pelo despertar.
  -Claro que sim. Desde a infância sou apaixonada por você- respondeu Suzana.
  - Quero acordar toda a manhã ao seu lado meu amor. Quero estar juntinho com você por toda a eternidade.
  Ele tirou da gaveta uma caixa prateada e entregou para Suzana.
  Ela abriu com ansiedade e apreciou a bela fita vermelha ao fundo.
  Nesse exato momento seus olhos voltaram para o presente e não havia mais nenhum olhar admirador para a fita, somente uma tristeza absoluta voltada para o amor sombrio.
  Com passos lentos Deric percorreu o caminho de pedra, sua alma vendida pelas profundezas, seus demônios acordados por sua mente, seu amor negro pulsava por suas veias. As sombras o perseguiam até a recepção, onde ele encontrou um segurança que o indagou:
  -O que o senhor esta fazendo aqui? Essa é uma área restrita para os funcionários.
  -Eu fui contratado ontem para a vaga de jardineiro.
  -Qual é seu nome?
  - Deric Lahn.
  O segurança conversou com alguém pelo rádio por alguns minutos, depois se dirigiu para Deric e disse:
  -Venha, vou te levar para os seus aposentos.
  Sorrindo, ele pensava no rodamoinho de inconseqüências.
  Suzana, meu amor. Vou te preparar uma grande surpresa. Prometo que vou te ajudar.
  Na cozinha da mansão Rosa Dourada uma empregada rasgava uma página do calendário, anunciando o início do próximo mês.
  
  O primeiro dia de trabalho na Mansão Rosa Dourada tinha sido árduo, parecia que aquele jardim estava abandonado, as flores sem pétalas, sem brilho, secas e algumas mortas pelo lindo gramado.
  A casa do jardineiro ficava próxima a quadra de tênis. Enquanto podava as árvores, Deric observou Frederico e um rapaz de mais ou menos vinte e poucos anos, com faixa de tenista, alto, cabelos pretos e olhos castanho claro jogando uma partida com muita energia e garra. Os gritos do rapaz misterioso mostravam que ele só jogava para vencer. Frederico já mostrava mais sutileza em seus golpes, sua técnica era muito mais avançada e por isso ele praticava menos esforço. Porém habilidade e esforço pareciam estar empatados.
  Como eu gostaria de estar jogando, pensou Deric. Desde os oito anos ele jogava tênis, chegou até a viajar para alguns torneios importantes na infância. Porém deixou tudo para ficar junto com a sua família. E quando ele pensou que havia montado uma...
  Estou aqui por causa de você Suzana, eu te amei mais do que tudo nessa vida. E agora eu vou cobrir os seus erros, te ensinar uma lição eterna.
  Perdido em seus pensamentos, Deric nem percebeu a presença de Frederico e do estranho rapaz andando pelo caminho de pedra, muito próximos da sua presença. Até que Frederico acenou com a mão e falou:
   - Bom dia! Parabéns pelo trabalho. Já posso notar uma mudança nesse jardim- disse ele sorrindo- Gostaria da sua presença daqui a pouco na biblioteca, queria acertar alguns detalhes do serviço com você.
   Deric curvou a cabeça e obediente respondeu:
   - Como quiser senhor. Quando solicitado estarei lá.
   Os dois rapazes continuaram seu caminho até o início da mansão e Deric escutou o rapaz dizer para Frederico de que seu vocabulário era muito refinado para um simples jardineiro.
   Droga. Se eu continuar assim meu plano vai cair por água abaixo. Preciso me concentrar no meu papel de jardineiro. Lembro das atividades que minha avó fazia na minha infância. Agora tenho que colocar tudo em prática! Não sou mais aquele rapaz rico.
   
   Sua beleza era o único resquício da sua vida de riqueza, contudo Deric naquela manhã sujou todo o seu rosto de terra, atenuando a sua beleza e demonstrando que a jardinagem era realmente a sua profissão.
   Assim que o chefe dos seguranças, Marcos, avisou de que o senhor Frederico o esperava na biblioteca, Deric foi ao encontro do seu principal rival.
   Frederico era um cavalheiro, usava um terno negro sofisticado e logo que o novo jardineiro apareceu, ele fez questão de se levantar e apertar a mão do novo empregado.
   Você esta segurando as mãos que vão tirar a sua vida, pensou Deric, sentindo aquela mão pulsando calor e pensando que esse seria um de seus últimos movimentos.
   Os dois conversaram por alguns minutos sobre o salário, as atividades, os procedimentos do serviço e depois se despediram e Deric voltou as suas obrigações. Porém, quando chegava perto da porta para o jardim, na sala oposta ele vislumbrou Suzana penteando o lindo cabelo, ele começou a se aproximar, queria beijá-la, queria sentir o perfume do seu cabelo, o calor de seus lábios, o coração pulsando... Contudo, ele foi detido por uma voz masculina ás suas costas.
  -O que o senhor esta fazendo aqui? Não deveria estar no jardim? – Quando ele se virou ficou cara a cara com o homem que jogava tênis com Frederico pela manhã. Os dois ficaram se encarando por alguns segundos. O poder nos olhos daquele cara eram amedrontadores, a sua ambição respingava pelo seu olhar. Deric sentia uma imensa vontade de largar tudo o que ele tinha planejado para ficar com Suzana.
  Agora é tarde demais, ela não vai me querer.
  Deric foi o primeiro a desviar o olhar, e derrotado se dirigiu para a casa do jardineiro. Lá ficou ascendendo e apagando um isqueiro sem parar. Nas chamas via a vida. O calor destruía, consumia. O inferno agora parecia muito mais acolhedor, cheio de almas implorando pela vida. O fogo iluminava a escuridão. Olhando para a janela ele podia observar que a noite se aproximava, junto com o seu plano, junto com a sua vida. Uma nova vida, pensou ele.
   Quando a lua cheia apareceu no céu, Deric foi ao jardim e lá encontrou a sua amada, Suzana com um vestido vermelho ficava olhando para os dois lados procurando alguém. Deric veio por trás dela e repousou a sua mão em seu ombro.
   Suzana foi se virando, como nos filmes, em câmera lenta. Procurando o seu grande amor, a pessoa pela qual tinha se apaixonado. Seus olhos se esbugalharam com a visão de Deric, ela sentiu o terror, tentou se desvencilhar. Queria gritar, mas Deric tapou a sua boca com a mão.
   -Se você gritar, eu te mato- agora ele podia sentir aquele perfume, e a vontade de uma nova chance com ela. As lembranças voltaram a se juntar com o presente.
  -Eu não quero mais você, Deric. Eu te odeio- disse ela com o olho roxo- Você é louco! Seu amor é doentio. Eu não agüento mais essa desconfiança. Você vai acabar me matando.
 Assustado e sem saber o que fazer, ele a ameaçou.
 - Se você fugir de mim eu vou até o inferno te buscar- apontando o dedo para a cara dela- E não vai ser só um olho roxo que eu vou deixar marcado na sua cara, mas sim um tiro na sua testa.
 Corajosa, ela se levantou e começou a bater no peito dele com toda a sua força.
 -Seu desgraçado! Seu imbecil! Que tipo de monstro você é?
 Ela começou a chorar.
 -Desculpa, desculpa. Eu não quis te dizer isso, você me deixou louco. Eu te amo mais que tudo nessa vida, por isso que eu fiz isso. Não consigo pensar na menor hipótese de te perder, você é tudo na minha vida. Sem você não sei viver, sem você o sol não é o mesmo, o dia não é o mesmo, minha alma não é a mesma. Preciso do seu calor, preciso da sua presença. Será que você não pode me entender?
  De repente ela parou de chorar, passou os seus dedos pelos lábios de Deric e disse:
  -Eu vou te perdoar. Mas só dessa vez querido. Uma última chance.
  Última chance.
  Última chance.
  Última chance.
  Essas palavras ecoaram em sua mente.
  De volta ao presente, ele perguntou:
  -Eu acreditei nas suas palavras. Porque você não cumpriu com as suas? No dia seguinte não havia mais ninguém para partilhar a cama comigo. Fiquei sozinho. Desesperado. Chorando igual uma criança. Você me traiu com esse cara, eu sei que sim, e agora os dois irão morrer.
   Suzana colocou a mão para tirar a de Deric de cima da sua boca e como ele cedeu, beijou a sua boca por alguns minutos, um beijo quente e apaixonante. Deric se sentiu nas nuvens, seu coração começou a bater mais rápido. Parecia que estava flutuando por ventos desconhecidos, mergulhando por cavernas encantadas.
  Quando os lábios deixaram de se tocar, Suzana falou bem baixinho:
  -Eu... Te... Amo.
  Ele a abraçou fortemente e começou a chorar.
  -Porque você fez isso comigo? Senti tanto a sua falta. Você nem imagina.
  -Quando eu recebi a sua carta marcando o nosso encontro eu vim correndo, você não percebeu?
  -Claro que percebi. Venha. Dance comigo.
  Os corpos dos dois ficaram colados e em sintonia. A lua cheia iluminava o casal, com passos lentos eles deslizavam pela grama. Uma alma com dois corpos. Envolvidos pela noite fria. Eles se juntavam mais ainda para se aquecer.
   Suzana disse em voz baixa:
   - Como está frio aqui fora. Não é melhor nós entrarmos?
   -Não precisa se preocupar com isso, querida. Logo você estará bem quentinha.
   -Vamos pra casa?
   -Sim. Vai ser tudo igual como era antes. Lembra de como nós éramos felizes?
   - Claro que lembro meu amor- disse ela tentando parecer completamente apaixonada por ele. Não vejo á hora de conseguir fugir desse psicopata. Não acredito que foi ele quem mandou a carta, pensou ela cheia de desespero.
   Ele continuou a dança, com passos lentos, cada vez que ele encostava-se ao corpo de sua amada, uma ardência enchia o seu peito de carinho. Poderia ficar por toda a eternidade ali, que não seria nenhum castigo.
   - Estou com frio, por favor, vamos para dentro. Eu pego as minhas coisas e nós vamos para casa.
   - Só diga que me ama. Aí nós entramos, pegamos as suas coisas e finalmente voltaremos ao nosso lar. Ter nossos filhos e com o nosso amor conquistaremos o mundo.
  Ela sorriu. Sabia que agora estava em vantagem, depois que os dois entrassem, ela iria acordar Henrique e ele a salvaria de toda aquela mentira. Ele sim era o seu grande amor. Estava cansada de todas aquelas mentiras. Agora queria viver um amor sincero por toda a eternidade, e isso só poderia acontecer com o doce e acolhedor Henrique.
  Quando ela abriu os lábios para pronunciar “eu te amo”, a sua voz não saiu, o que saiu foi sangue pela sua boca, ela sentiu um golpe afiado em suas costas, rasgando a sua pele, indo cada vez mais fundo. Um, dois, três golpes. Um mais intenso do que o outro. O seu corpo foi aos poucos caindo sobre o corpo de Deric, os olhos dela sem visão, derrotados pela busca incessante de um amor que a pudesse preencher.
  Deric largou o corpo dela no gramado, ascendeu o isqueiro e queimou os cabelos dela primeiro. Aquela chama começou a se alastrar por todo o corpo.
  A fita vermelha começava a se contorcer, temendo as chamas. O fogo começava a beijar cada parte do corpo de Suzana que com o beijo mortal trazia cinzas a vida. E agora Deric sabia que ela não estava mais com frio.
   Ele começou a correr para a mansão Rosa Dourada, ao fundo ele ainda podia perceber o fogo crescendo e se alastrando por todo o jardim.
   Ela está viva! De alguma forma querendo avisar a Frederico. Tentando ajudá-lo a escapar, mas ninguém vai conseguir impedir a minha missão. Descanse em paz com o fogo tomando conta do seu ser minha eterna amada, Vista as chamas no seu belo corpo, atravesse o mundo do amor, encantado por fronteiras além do entendimento humano.
  Deric pensou ter ouvido algum grito de dor vindo do fogo antes de chegar á mansão. Lá ele encontrou Henrique, o rapaz que jogava tênis com Frederico pela manhã, que disse:
  -Ele esta lá em cima. Espero-te aqui fora com a recompensa, seja rápido.
  Com o punhal em mãos, que estava sujo com o sangue de Suzana, ele começou a subir as escadas para exterminar Frederico.
  Só que antes ele começou a lembrar da sorte de ter encontrado Henrique.
   -O que você estava fazendo nas imediações da mansão? Sabe o que fazemos com ladrões como você?- e seu capanga socou o olho de Deric.
  -Eu só queria minha esposa de volta.
  Henrique tinha ficado muito interessado com a sua história naquele momento, e depois de ajudá-lo a se libertar do amor que sentia por Suzana falando que o melhor que ele tinha que fazer era matá-la e depois ele teria uma nova vida, já que se Suzana não fosse sua ela não seria de mais ninguém e ele podia viver com qualquer outra mulher na polinésia francesa, com uma nova identidade, uma nova solução para os seus problemas, um novo paraíso, uma nova vida.
   -Eu vou escrever um bilhete pra ela te encontrar hoje á noite. É a sua última oportunidade de terminar com essa história- disse Henrique.
  Aos poucos ele foi se aproximando do quarto de Frederico. Ele estava deitado na cama. Pela janela Deric podia ver as chamas, sua amada estava em fúria, tentando alertar Frederico de sua possível morte.
  É tarde demais Suzana. Seu sangue vai se encontrar com o dele em poucos segundos, a suas chamas vão se juntar com o corpo dele em algumas horas, e finalmente os dois estarão juntos com suas almas queimadas por um amor sombrio.
   O seu punhal ganhou altura para o golpe final. A sua lâmina estava iluminada pelo fogo que se alastrava lá fora.
   Frederico nem sabia que estava muito próximo da morte.
   E a mão que segurava o punhal desceu com toda a sua força pelo corpo de Frederico. Uma, duas, três vezes. Até Deric perceber que alguma coisa estava errada, e quando ele tirou o cobertor da frente, uma fileira de travesseiros cortados apareceu na sua frente.
   Ele começou a correr, correr. Quando chegou ao alto da escada, metade dela já estava em chamas, não tinha mais escapatória. Ele podia ver o rosto de Suzana encapuzado pelo fogo, buscando a sua alma, cheio de um ódio, de uma ira, de uma alma aprisionada eternamente pela dor, vindo ao seu encontro.
   Deric percebeu que a única coisa que ela queria era mais uma dança, podia escutar o seu choro, e determinado a realizar o desejo da sua amada, ele a pegou pelos braços e os dois dançaram coladinhos, como naquela noite no jardim, mas dessa vez não havia nenhuma lua para iluminar o desejo que um nutria pelo outro, apenas a luz da morte oferecendo o seu beijo quente aos dois. Deric sentiu seu corpo agonizando pelo calor, queria gritar, não suportava mais dançar com Suzana.
   -Calma, amor, é só uma dança- ouviu-a dizer.
   Não havia mais nada para responder, nem os gritos entalados na sua garganta conseguiam sair, sua pele virava cinzas. Ela não disse “eu te amo’ pensou, antes de embarcar no vôo da escuridão.
  
  Lá fora Frederico e Henrique observavam a Rosa Dourada em chamas.
  Frederico chorava pela perda de sua amada. Ele virou-se para Henrique e disse:
  -Você salvou a minha vida! Como posso te agradecer? cv
  Henrique com os olhos cheios de uma teatral tristeza, respondeu:
  -Imagina. Fiz isso porque sou seu amigo. Agora nós teremos que nos reerguer e começar uma nova vida.
  Uma nova vida, Uma nova vida, Uma nova Vida. Essas frases ecoaram por duas almas perdidas no inferno dançando pela fumaça e implorando por perdão.

10 de jul. de 2012

Mensagens 2


“Ligado ao chão, vislumbrando o mundo, danço continuamente os desejos aprisionados no palco afundado pelo pensamento noturno. Correndo pelas veias, pulsando a vida de todo existir, penso no que há de errado na vida e naquela tempestade passageira que por todos os instantes insisti em não partir.
  Penso, penso no que há de errado.
  Penso, penso numa imensidão de possibilidades.
  Penso, penso correndo pelo vento.
  Penso por toda a vida, o significado da verdade.
  Abandonado por escadas quebradiças, voando por turbilhões de emoções, ás vezes sinto que sou um anjo, contudo, sei que só por poucos segundos consigo sair do chão. Minhas asas tingidas de sangue, meus olhos pintados de azul mostram, que oceano e vulcão, podem ser uma bela combinação não só nos quadros de um excelente pintor e sim, na alma de um verdadeiro admirador.
   Sobrevoando pilares e me limpando em lagoas de outros lugares, sou banhado com águas envolventes que acolhem o meu ser, me vestem para a vida e me ensinam a sobreviver.”

” Olhares atentos que buscam palavras que a alma pode nutrir, muitas vezes não encontram o que querem e logo pensam em desistir. Olhares atentos que observam a mágica na realidade e na mentira uma verdade. Olhares atentos que não conseguem se fechar nem por um momento, que não conseguem dormir, procurando se proteger das matérias do mundo, não conseguindo viver. Olhares atentos que se iludem com o cansaço e perdem a capacidade de discernir o que é certo do que é errado. Feche os olhos e confie na sua intuição, por caminhos estreitos e sem visão, abrace a vida e encontre o caminho da salvação."


” A sua declaração me pegou de surpresa, não contava com seu sentimento tão puro sobre a minha presença. Nosso beijos silenciosos e inexistentes, nossas vidas idealizada na sua mente. Tudo, parece ser uma história contada para pessoas, que no final será feliz e envolvente. Porém, como muitos sabem eu não gosto de um final feliz, mas sim daquela tristeza sombria que nos faz refletir.”



” Na noite escura e sombria, tentando te esquecer, abro um buraco no mundo voltado de guerras internas sobre o que eu preciso fazer. Olhando para a morte vejo meu pesadelo mais sombrio, a lua nova desperta o meu olhar pro brilho carente de uma estrela sem vida, a vela do meu quarto se apaga com o vento, deixando apenas um frio agonizante e uma enorme ferida. Máscaras aparecem na escuridão sorrindo e desejando me conquistar, o meu reflexo no espelho não obedece aos meus comandos e consegue fugir, risadas malvadas atormentam meus ouvidos. Sinto que não estou mais sozinho. As sombras atrás da porta conseguem se mover, o nada consegue criar vida, minha cama parece estar viva. Meu medo aumenta, minha mão começa a tremer, a morte com seu capuz e sua foice atravessa o rio da realidade e consegue me vencer. Giro, giro pela cama procurando esquecer das tristezas da vida e de uma razão pra viver.”

” Sua beleza indiscutível, para muitos vale mais do que o necessário. Sua beleza pode ser banhada por uma capa de rei e sua cabeça por uma coroa de cristal. Porém, pela carruagem invisível, você é apenas mortal.”




8 de jul. de 2012

Medo


(Autoria de Guilherme Torrano e Mariana dos Santos)

Medo de morrer,
Medo de viver,
Medo de um dia
Tudo se temer

A vida me ensinou
Que tudo pode ser perdido
Evitando a dor e decepção
Fiz do medo meu amigo.

Talvez, mais do que amigo
Quem sabe um grande amor?
Com seu perfume tenebroso
Faz gelar o meu calor.

Sentimento misterioso.
Amor traiçoeiro e vil
Fugir já não consigo
Pois você me cegou, me seduziu

Beije-me enquanto durmo
Com suas asas de escuridão,
Deixe-me sozinho á noite
Levando maldade ao meu coração.

Sob a luz das estrelas,
Libertei-me do seu poder
Com seus lábios sobre os meus
Senti que poderia viver.

(Queria agradecer a Mariana dos Santos por ter aceitado produzir esse poema comigo e dizer que fiquei muito contente com o resultado. Depois de "Sonhos" foi um melhor do que o outro. Beijos e mais uma vez obrigado)

3 de jul. de 2012

Brincando


"Não existem dragões, nem sereias para me conquistar, muito menos monstros atrás da porta para me amedrontar".

Quando eu era criança, sonhei com um mundo fantástico de poderes. Carros voavam pelo céu, não sabia o que era a morte, somente brincar e quando contrariado, simplesmente chorar. Meu olhar curioso, cheio de um brilho estrelar queria conhecer o mundo e por ele velejar. Conheci várias pessoas da minha idade, entre elas conheci as diferenças, as igualdades, as mentiras e as verdades. Os bonecos guardados no baú do meu quarto ganhavam vida quando eu os pegava e criava uma envolvente história voltada de magia, minha mente trabalhava a todo instante procurando uma grande aventura para conquistar o meu precioso tempo.

Nos meus pesadelos mais sinistros, sempre tinha o abraço acolhedor da minha mãe para me proteger, nas viagens mais marcantes o tempo voava, minha diversão eterna não esperava amanhã, tão pouco caminhar por labirintos inesquecíveis e descobrir os segredos da chave que guardo no fundo do meu coração.

Com mergulhos pelo mar da noite, aprendi muito a viver, são com os erros que aprendemos a acertar e com isso levar aprendizados para no futuro conseguir prosperar. Descobri que no mundo ainda existem pessoas sem o planejamento do amanhã, vivendo intensamente cada momento, e para essas pessoas eu tenho uma coisa a dizer: Um dia os brinquedos deixam de criar vida, as pessoas deixam de sorrir, o tempo enterra momentos congelados e a alegria deixa de existir.

Brincando de cobra cega durante toda a nossa existência, aos poucos as coisas vão ficando mais claras e descobrimos na escuridão uma razão para continuar e outras para temer, porém com tantas armadilhas no mundo, deixamos o medo de lado e erguemos a cabeça para vencer.

A pedra aos poucos é jogada pela minha mão como na amarelinha, algumas situações eu terei que passar para chegar ao céu, outras terei que desistir. Dúvidas, escolhas, atitudes são ingredientes importantíssimos para ganhar, porém nem sempre quem chega ao céu primeiro é o verdadeiro campeão.

Antes que eu diga adeus, fico atento esperando a bola de sabão flutuar e ganhar altura até explodir, fico atento as histórias contadas pela minha mãe antes de eu dormir, e quando meus olhos se fecharem para o mundo, nenhuma solidão tomará conta do meu corpo, e sim o calor dos dedos da minha mãe acariciando o meu cabelo e protegendo todo o meu ser.