11 de abr. de 2013

A Nossa Morte


 O fim. É difícil começar um texto pelo seu final, seu triste fim revelado no aroma mais doce e sensual. Penso na flor vermelha entre várias flores amarelas, imagino dois corpos pulando na piscina, submersos por sonhos detalhados e ingênuos. Esse aroma que desperta as minhas lembranças durante a noite fria, essa água que acolhe o meu corpo como se fosse um cobertor. Esse destaque que um tinha pelo outro e que se acabou.
  Quando abro os olhos durante a manhã, o universo e o sentido se perderam, na estrela cadente que sorriu e na lua crescente que se encolheu.
  Chega de palavras tristes. Chega de chorar pelo passado. Ouça o barulho do espírito querendo se libertar. Abri a porta e você não estava lá.
  O líquido da nossa amizade, do nosso parentesco distante, derramou a lágrima da cópia e fez do nosso relacionamento algo errante, e nem a fênix que prometeu renascer o nosso sorriso, ligou para anunciar o nosso tão aguardado encontro.
  E do silêncio fez se o espanto. E do esquecimento a loucura. Nem lembro mais da sua face quando procuro o álbum que marcou a nossa infância. O tabuleiro de xadrez continua no quarto, com as peças jogadas e com o meu rei triunfante, seu exército virou um fantasma, e nossas histórias algo irritante.
  Escrevo para os anjos procurando uma solução para o nosso problema. Podem ficar tranqüilos, caros leitores. Dessa vez prometo não cometer nenhuma loucura. E o meu amigo? Quem enfeitiçou os diálogos leais e verdadeiros? O que aconteceu com a juventude que não tem limite? Somos os reis do mundo? RESPONDE!
  Diga os meus defeitos lentamente em meus ouvidos. Ensine o personagem que você quer que eu seja. Prefiro interpretar alguém que não sou a quem eu sou. Interpretar a si mesmo é muito difícil. Minha alma clama por liberdade, e minha mente construída pelo mundo sangra com as mentiras.
  Olho para os céus e vejo anjos descendo com gaiolas. Corro para um santuário e me jogo na fonte do nada. Rolo pelas cores do dia do nascimento e bebo a água encantada do nosso enterro.
  Quando estou desesperado, bebendo algo sem gosto, vejo uma luz no fim do túnel e eis que surge o nosso encontro. Os meus olhos de caçador, os seus de compaixão. Os meus sentimentos beirando ódio e calor. Os seus de indiferença e frieza.
   - Parecia que nunca iria te encontrar novamente.
   - Eu tive a mesma impressão- disse ele com um tom de voz seco.
   - O que aconteceu com o laço que unia a nossa história?
   - Rompeu-se quando descobrimos o sentido de viver.
   - Não entendo. O que fazemos juntos nesse lugar?
   - Viemos morrer juntos- Ele pegou a única flor do local e a esmagou com a força das suas mãos.
   Assustado, coloquei a minha mão para proteger a luz dos meus olhos. Aos poucos comecei a me aproximar, com minhas vestes negras rastejando pelo chão. Cheguei perto do meu amigo e beije-lhe os seus pés. Dizendo baixinho:
  - Qual personagem você quer que eu seja dessa vez?
  Com medo, olhei para o espelho e vi os olhos do meu amigo. Falava comigo e era ele quem respondia. Senti meus lábios secos como se nunca tivesse bebido água na vida. Fiquei encolhido, aguardando a sentença final.
  Senti seus pés chutarem a minha cabeça, a dor incendiou as minhas fraquezas. Minhas mãos foram algemadas, meu sofrimento esquecido. Minhas vontades enjauladas.
  - Liberte-me desse inferno que é ocupar a sua mente. Deixe-me refletir os seus sentidos- Estávamos presos um no corpo do outro. Éramos um só!