15 de jul. de 2013

As Formigas e o Leão

“Até mesmo os poderosos podem precisar dos fracos.”
(Esopo)

Raios de luz. Sol, poder. O leão abria os olhos, dourados, para o mundo como a claridade desperta a manhã.
Seu aposento coberto por lã vermelha vinda de Vucana acolhia seu pêlo confortavelmente durante o sono.
Enquanto isso, as formigas trabalhavam a todo vapor. Com um centímetro de comprimento comunicavam-se pelas antenas. Desde o alvorecer, milhares cumpriam suas tarefas para o “Rei da Selva”.
Não pensavam, obedeciam. Durante as suas seis a dez semanas de vida faziam do seu trabalho uma locomotiva de afazeres que resultavam no maior tesouro do Leão. O tempo passava e seus feitos eram desprezados como o seu tamanho e sua insignificância. Pareciam um fantasma para o reino, imperceptíveis a um elogio ou um gesto de valor.
Três das bilhares de formigas tinham o privilégio de cuidar dos aposentos do Leão, que a essa altura se encontrava na sala dos prazeres tomando o seu café da manhã.
O leão tomava leite fresco, se arrastava nos móveis como um gatinho mimado. Bocejava, mostrando a sua boca enorme e seus dentes afiados.
Após alguns minutos brincando com uma bolinha vermelha junto com Juno um bicho-preguiça, seu braço direito, o leão voltou para os seus aposentos que já haviam recebido o impecável toque das formigas.
- Juno, algum problema com as questões do reino? – perguntou o Leão.
- Problema? Vossa Majestade nunca perguntou sobre os problemas relacionados com a selva. Espero não ter recebido nenhuma queixa. O senhor nem imagina o meu grande esforço para colocar tudo em ordem. Nem queira saber, é um tremendo trabalho. Só de pensar...
- Não se preocupe, confio em você. Só queria sair um pouco da mesmice, às vezes fico com um tédio ao cair na rotina.
- Normal, meu Lorde. A sociedade é feita assim, de confiança. Digamos que uma confiança cega, ninguém gosta muito de saber o que seus governantes estão fazendo desde que a sua situação esteja de bom tamanho. Pra que arrumar confusão? Só de pensar...
O Leão sorriu.
- Às vezes te acho tão engraçado.
- Precisamos buscar rir sempre, para não acabar chorando.
Ao olhar para a janela do cômodo, o Leão e Juno observaram construções, limpeza e absoluta ordem em equilíbrio com o verde da natureza.
- Parece que está tudo bem- disse o Leão.
- Claro que sim- respondeu Juno. As formigas continuavam o seu trabalho, dia a dia, do amanhecer ao crepúsculo com o suor no corpo que derretia os seus pensamentos.
Nesse momento o leão rugiu. Símbolo do seu poder, vibrante e triunfante.
As formigas ouviram ao longe, pararam um segundo para pensar, contudo logo continuaram. Havia muito trabalho para fazer.
Juno se despediu e ia saindo dos aposentos do rei quando o leão percebeu que sua lã vermelha vinda de Vucana estava arrumada magistralmente. Queria saber os verdadeiros responsáveis desse feito. Juno bateu a porta e a preguiça tomou conta do Leão. No fundo ele achava que Juno também não sabia.
Só de pensar...