8 de jul. de 2014

Monstro

Por todos os lados, todos os sentidos.
Um guarda-roupa que não se abre, mas faz barulho. Alguém que não se vê, mas se sente.
Realmente não sei, ou talvez finjo não saber o teor assustador de sua essência.
Numa das casas que desfruto de bela solidão, toco meu violão tranquilo, apreciando a paisagem bucólica. Com o chapéu, cobrindo meus cabelos castanhos encaracolados como uma cascata, faz tempo que não o vejo subir o vilarejo.
Canto à noite inteira "Frutos dos Velhos Tempos" até que se esgote a cerveja.
E como sempre, depois das loucuras e dos devaneios sinto seu frio invadir a porta e seu barulho silencioso subir a escada.
Eu sinto o seu sopro invadir o meu quarto e sua sombra se espalhar pelo brilho dos meus olhos, fazendo-me chorar.
Mãos esqueléticas vão de encontro ao meu corpo despejar maledicência. Nesse instante, cuidadosamente, o monstro fecha a janela, e enterra a paisagem nas terras de minhas lembranças esperançosas.
Tento falar, contudo não posso.
Tenho medo de suas vestes escuras, de seu beijo outonal.
De repente, o violão começa a tocar sozinho, uma nota esquarteja o mutismo e por incrível que pareça, me remete a paz e grito.
A madruga desperta juntamente com os ponteiros do relógio que parecem engasgar.
Não há tempo para mais nada.
O monstro me olha com seus olhos escuros como o fundo de um poço e eu tento discordar, com lágrimas percorrendo meus lábios. O pânico me toma conta enquanto suas garras rasgam minha pele. E eu penso "não é a morte?" e ele disse:
- Futuro.
O peito aperta e o coração parece explodir.
O frio eterno parece a centímetros de se aproximar, suas presas cravam meu pescoço deixando o violão cair no chão.
Sangue quente escorre das veias pronto para lhe saciar.
Solto gritos de misericórdia. Rasgo a agonia com dor extrema.
Perco os movimentos com seu abraço esmagador.
Passos ressoam.
O monstro fecha a porta.