21 de fev. de 2015

Pedaços de Sonhos

Abro a janela de casa e observo a paisagem urbana.
   Lá fora existe o mundo, pessoas, famílias, crenças e descrenças na mais bela antítese da vida. Existe o todo absoluto e na mesma proporção o reverso de todos os conceitos.
   O ar que respiro invade meus pulmões e me acalma, sei que tudo isso não é pra mim. Meu corpo não é capacitado para tamanha informação e tempo. Sairei de palco sem ter experimentado diversos pratos que me agradariam muitíssimo, pessoas nas quais seria amigo íntimo, centenas de possibilidades de amores para o resto da vida, e outras tantas de fracasso e briga.
   Vi um avião passar entre as nuvens e pensei nos sonhos, suspiro deitado na cama. Quantas horas passei nesse mundo? Agarro o lençol azul de bolinhas brancas e fecho os olhos e abro a imaginação. Andar por jardins abstratos ou realizar delírios inconseqüentes? Nele, poderia guardar segredos do mundo gritando-os aos quatro ventos. O sonho é o nosso combustível, criamos a máquinas, voamos como os pássaros, descobrimos novos planetas. Depois disso, choramos. Criamos as soluções e as armas, a paz e a guerra.
  - Não leve flores para um dia de guerra e nem armas para um dia de paz- disse uma vez a uma amiga.
  Inventamos diversas normas e regras, giramos engrenagens e fortalecemos culturas. Fomos nossos próprios deuses, condenando inocentes e perdoando culpados, falhamos na tarefa máxima da justiça.
 Quantos risos se perderam na desigualdade? Mães que lutam para sustentar os filhos, isso devia soar como heroísmo, e não superpoderes, assassinos e lutas entre o bem e o mal.
   Escolhemos investir na educação, estabilidade, casamentos e filhos. A linha natural da vida. Como seria tracejar essa linha de outras maneiras numa folha em branco? Não seria bom ser um idoso sem reclamar da vida? Um adolescente sem confusões e problemas? Talvez fosse bom tirar as próprias conclusões. Ainda mais pensando que todos nós teremos um último dia para tudo. E quando esses dias chegarem, o tempo vira pó e não há como voltar atrás.
   O que somos? O que seremos?
   Nossos líderes estão preparados para nos guiar? Ou somos dezenas de países caminhando para lados diferentes e consequentemente obtendo resultados distintos?
   Abro os olhos, chega de filosofia. Estou pronto.
   Tenho uma colina de perguntas para fazer, não sei para onde ir, acho que amo e odeio com tamanha intensidade. Consigo chorar e rir, mas acima de tudo. Consigo errar.
   Vejo o espelho como quem vê estilhaços. Um caco de vidro simboliza cada aprendizado, cada pessoa que me colocou medo ou confiança, que fez quem eu sou.
   - Não ouça os seus pensamentos. Às vezes eles perturbam, tiram o sono.
   A cada momento escuto frases.
   - Quer casar comigo?
   - Estou grávida.
   - Fulano morreu.
   O corpo cai. Chega à tristeza, a angústia. Penso que estou soterrado, esquecido, sozinho.     
   Danço com a bela dama como se estivesse dançando comigo mesmo. Rodeado de cortinas da corte, fantasmas.
    - Preciso de você- e a beijo.
    Tiro sua máscara e não vejo ninguém.
     O salão está vazio.
     O vestido de noiva manchado de vermelho, manchado de sangue!
     De repente, vejo um objeto entre as suas vestes brilhar. Dourado, agarro o troféu feito de ouro, e ergo acima da cabeça como os falsos campeões.
    Isso mesmo, nem todos estão dispostos a apreciar uma bela dama. Mas sim, o que isso significa.
    Eu sei. É preciso se firmar com os outros. Não se preocupe, eles não merecem tanta importância assim, são tão fracos, humanos e cheios de vício quanto você.
    Por fim, chego ao portão de casa. É o último dia que sairei por ele. Depois de tantas entradas e saídas, me despeço de casa como quem se despede de varrer o chão. Tão simples e sem significância que nem ao menos reparei.
    - Sentirei saudades?
    - Imensa saudade.

    Um dia acordei, escovei os dentes, me arrumei e fui trabalhar. Depois voltei pra casa e troquei de roupa para ir à universidade. Após a última aula, voltei para casa de metrô e dormi. Foi perfeito. No meio de tudo isso, vislumbrei belos prédios em São Paulo durante o percurso, conversei com pessoas maravilhosas, aprendi muito. Ri algumas vezes e pensei em zilhares de besteiras. Fiquei no ponto de ônibus, esperando o tempo passar!  

Um comentário:

Mariana Santos disse...

Gostei! É um texto tão leve e denso ao mesmo tempo, que faz refletir sobre muita coisa. Parece aquele momento do despertar em que a realidade se mistura com o sonho, e se torna muito difícil, quase impossível, diferenciar um do outro... Ficou muito bom!

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